segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uniões desunidas

Casamentos me emocionam.

Há algum tempo planejo me casar, entrar na igreja com o tão sonhado vestido branco e dizer ‘sim’ àquele que estará ao meu lado até que a morte nos separe.

O romântico contempla o matrimônio com olhos mais poéticos do que uma coletânea de Vinícius: a perfeita junção de dois caminhos que se completam através do amor, do companheirismo, da amizade e da lealdade. Uma ficção açucarada digna das mais célebres premiações cinematográficas.

Em algumas ocasiões, entretanto, a realidade nos desperta do sonho. E é aí que penso na rotina do casamento, no trabalho, no cansaço, no mau humor, indisposição, discussões, contas a pagar, falta de dinheiro no banco, nas crianças chorando, nos cachorros fazendo sujeira pela casa, nos afazeres domésticos, no medo de uma possível traição quando ela aparece com alguns quilinhos a mais ou quando ele já nem nota se ela engordou ou emagreceu... enfim, fatores que incitam o romantismo a se trancar para sempre num porão escuro e frio.

É certo que não fomos criados para lidar com tamanha crueldade, pelo contrário: até as histórias infantis de Walt Disney induzem nossos pensamentos a erro quando se trata de casamentos e finais felizes. Por outro lado, também não me parece boa ideia fechar os olhos para a franqueza da situação.

Examino minha vida da forma como está hoje e me vejo segura morando com a família, sob as asas e a proteção acolhedora da mãe. Mães são fieis, maridos (ou mulheres) nem sempre – e essa é a diferença básica entre umas e outros. Mães não deixam de amar um filho porque ele ficou velho, gordo, magro, feio ou ranzinza. Mães não trocam suas crias por outras quando elas adquirem celulites. Também não as trocam por exemplares mais inteligentes, bem sucedidos, carinhosos ou pacientes. Isso sim é amor incondicional. Infelizmente, nem sempre é possível dizer o mesmo a respeito de um cônjuge. Já dizia o poeta que o casamento é um fardo tão pesado que precisa de dois para carregá-lo – às vezes três. Esse fator, entre muitos outros, atravanca a ideia de sair da casa dos pais para dividirmos uma casa com nossas possíveis almas gêmeas.

O mito do casamento romântico, que se incrustou durante décadas nas mentes sonhadoras dos apaixonados, aos poucos foi esmorecendo. O número de divórcios, crescendo. As pessoas se tornam descartáveis e são trocadas na medida que surgem outras mais interessantes.

Foi assim que o casamento pós moderno se tornou um poço de desilusões.

Casamentos exigem uma análise minuciosa. E mesmo após muita análise, podem persistir incertezas, como a famosa máxima ‘não sei se caso ou se compro uma bicicleta’. Já que não sei andar de bicicleta, minha facilidade na hora de fazer a escolha é maior. Não sei, tentar construir uma história diferente. Quem sabe dá certo...

Até que a desilusão nos separe.