Ela tinha uma orca de estimação. A orca se chamava
Orca, para fazer jus à sua extrema falta de originalidade. Pois bem, Orca vivia
em uma piscina e nadava em movimentos quadrangulares enquanto era alimentada
por sua dona.
Em um fim de tarde, a dona disse:
- Vem, Orca!
E a Orca saltou para fora da piscina.
Nesse momento, o que parecia sonho virou pesadelo. A
Orca foi até as ruas, invadiu o comércio e começou a devorar todos à sua volta.
A dona pedia para que ela parasse, mas a Orca não lhe dava atenção.
- Escondam-se dentro das lojas! – berrava a dona.
- Precisamos deter esse bicho! Temos que matá-lo! –
diziam as pessoas, aterrorizadas.
Mas sua ligação com a orca de estimação era tão forte
que ela não podia conceber a ideia de permitir que alguém a matasse, ainda que
o animal representasse um perigo iminente a toda a sociedade. Assim, resolveu,
por sua conta e risco, tentar conduzir Orca de volta à piscina.
O problema não foi conseguir restituir o animal à
piscina, e sim, mantê-lo lá. Isso porque a Orca, que já tinha conhecido o mundo
do lado de fora d’água, tinha achado muito mais interessante devorar passantes
do que continuar em seu nado quadrangular. Quando começava a se sentir
entediada, portanto, a Orca dava um pulinho e sua sorte mudava.
Inconformada com a situação, a dona construiu um muro
imenso ao redor da piscina: Orca nunca mais entraria em contato com o mundo
externo. Mas a orca, que, além de louca de esperta, não queria ficar confinada
à sua piscina quadrangular, deu um golpe de mestre: devorou o muro. E, não
satisfeita, comeu também sua dona.
O mundo era seu, enfim.
Nota: essa história não é uma simples piração. Ela retrata um sonho que tive há alguns dias e os símbolos contidos na história possuem seus devidos significados em um dado contexto.