domingo, 19 de dezembro de 2010

Começo do fim

N’algumas vezes me pego começando pelo fim. Todo fim traz um novo começo, é verdade, mas sou do tipo que constantemente emenda um começo no fim do mesmo ‘algo’, como num eterno retorno. Sempre voltando ao mesmo ponto, sem saber arriscar, sem saber confiar no passado, presente ou futuro. Sempre dizendo “não sei, não sei...”

sábado, 18 de dezembro de 2010

Um dia acho

A sensação é de vazio, de eco, um eco muito grande que preenche cada poro, cada vão escondido dentro de mim. Tenho medo, não sei o que me espera. Tenho medo. Nunca quis criar expectativas, nunca quis estar nas mãos de ninguém, nunca quis me frustrar, eu só queria ser feliz, só queria um daqueles momentos de comercial de margarina, pelo menos por um dia. Mas falta. Falta algo que eu nem sei o quê. Uma prece, uma mão, um consolo, talvez fé. Deus, Alá, Krishna, Buda, Jeová, orixás, nem sei mais, você sabe? Sabe onde encontrar a receita da felicidade? Não, dizem, ela não está nas doses de whisky e nem nas risadas falsas dos figurantes do bar, não está nos seus amigos e nem em Deus, a felicidade está dentro de você mesmo. Mas como encontrar se agora só sobraram ruínas? Como encontrar, se agora só sobraram palavras chulas incapazes de expressar toda dor cortante, pungente? Alguém pode trazer felicidade a você? – é o que me pergunto nos últimos dias quando acordo junto ao meu abajur aceso e ao escapulário preso à cabeceira da cama, ali estão um Deus e uma Virgem a olhar por mim. Olho para os lados, apenas roupas pelo chão, silêncio e vazio. Me pergunto se um dia vai mudar, se vou acordar num mundo diferente, como Alice no País das Maravilhas. Acendo um cigarro e abro a janela: continua, sem pressa, vai que um dia desses me encontro por aí.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Partida

Nunca consigo. Quando toco depois no meu próprio rosto e, no limite dos dedos, percebo sulcos fundos ou bruscas protuberâncias na superfície da pele, pergunto se não teriam nascido ou pelo menos começado a afundar depois daquela partida. Parece-me agora, tanto tempo depois, que as partidas-dolorosas, as amargas-separações, as perdas-irreparáveis costumam lavrar assim o rosto dos que ficam.

(Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Foi

Nada como um dia após o outro.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uniões desunidas

Casamentos me emocionam.

Há algum tempo planejo me casar, entrar na igreja com o tão sonhado vestido branco e dizer ‘sim’ àquele que estará ao meu lado até que a morte nos separe.

O romântico contempla o matrimônio com olhos mais poéticos do que uma coletânea de Vinícius: a perfeita junção de dois caminhos que se completam através do amor, do companheirismo, da amizade e da lealdade. Uma ficção açucarada digna das mais célebres premiações cinematográficas.

Em algumas ocasiões, entretanto, a realidade nos desperta do sonho. E é aí que penso na rotina do casamento, no trabalho, no cansaço, no mau humor, indisposição, discussões, contas a pagar, falta de dinheiro no banco, nas crianças chorando, nos cachorros fazendo sujeira pela casa, nos afazeres domésticos, no medo de uma possível traição quando ela aparece com alguns quilinhos a mais ou quando ele já nem nota se ela engordou ou emagreceu... enfim, fatores que incitam o romantismo a se trancar para sempre num porão escuro e frio.

É certo que não fomos criados para lidar com tamanha crueldade, pelo contrário: até as histórias infantis de Walt Disney induzem nossos pensamentos a erro quando se trata de casamentos e finais felizes. Por outro lado, também não me parece boa ideia fechar os olhos para a franqueza da situação.

Examino minha vida da forma como está hoje e me vejo segura morando com a família, sob as asas e a proteção acolhedora da mãe. Mães são fieis, maridos (ou mulheres) nem sempre – e essa é a diferença básica entre umas e outros. Mães não deixam de amar um filho porque ele ficou velho, gordo, magro, feio ou ranzinza. Mães não trocam suas crias por outras quando elas adquirem celulites. Também não as trocam por exemplares mais inteligentes, bem sucedidos, carinhosos ou pacientes. Isso sim é amor incondicional. Infelizmente, nem sempre é possível dizer o mesmo a respeito de um cônjuge. Já dizia o poeta que o casamento é um fardo tão pesado que precisa de dois para carregá-lo – às vezes três. Esse fator, entre muitos outros, atravanca a ideia de sair da casa dos pais para dividirmos uma casa com nossas possíveis almas gêmeas.

O mito do casamento romântico, que se incrustou durante décadas nas mentes sonhadoras dos apaixonados, aos poucos foi esmorecendo. O número de divórcios, crescendo. As pessoas se tornam descartáveis e são trocadas na medida que surgem outras mais interessantes.

Foi assim que o casamento pós moderno se tornou um poço de desilusões.

Casamentos exigem uma análise minuciosa. E mesmo após muita análise, podem persistir incertezas, como a famosa máxima ‘não sei se caso ou se compro uma bicicleta’. Já que não sei andar de bicicleta, minha facilidade na hora de fazer a escolha é maior. Não sei, tentar construir uma história diferente. Quem sabe dá certo...

Até que a desilusão nos separe.

sábado, 28 de agosto de 2010

Pai

Nessa semana ele se foi.

Eu nasci numa terça-feira, ele se foi numa terça-feira. Meu início, seu fim.

Ainda é difícil crer que tudo aconteceu dessa forma. Me lembro de quando era criança, de quando me levava nas bancas de revistas para comprar gibis, me lembro dos passeios de carro, das instruções que me passava sobre como comer bife embrulhado em salada de alface, me lembro do primeiro buquê de rosas que ganhei na vida, e foi dele, no meu aniversário de 7 anos. Me lembro do seu pranto por não ter conseguido ser mais presente. Eu me lembro, e como isso me doi agora.

Espero que saiba que eu o amei, mesmo na ausência. Ainda o amo, sempre amarei.

Rezo para que as luzes celestiais o acompanhem, sei que um dia nos encontraremos para partilhá-la. Até lá fica a esperança do nosso reencontro e a saudade que não cessa.

domingo, 15 de agosto de 2010

História infantil

Era uma vez um cavalo que queria ser peixe.
Obcecado por seu sonho, um dia resolveu pular no mar. Mas que triste sina a do cavalo: ele começou a se afogar.
Bastante frustrado, o cavalo pediu ajuda ao seu amigo peixe boi. "O que preciso fazer para me tornar um peixe?" perguntou o cavalo.
Após muito pensar, o peixe boi teve uma ideia. Foi conversar com a sereia e relatou o drama vivido pelo seu amigo cavalo.
A sereia fez um feitiço e desde então o cavalo vive feliz: ele agora é um cavalo marinho.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Dois amores

*Polyana com cara de quem caiu do caminhão de mudança.


*Keila fazendo pose (com 5 meses).


Estou para minhas cachorras como uma mãe está para os filhos.

Polyana é um amor de longa data. Uma lhasa apso de meia idade que, apesar de sua meiguice, vive como a tia velha que não se casou, não procriou e que adora uma encrenca. São 7 anos caninos muito bem vividos. O ciúme excessivo faz com que ela não suporte a irmã caçula Keila, uma pastor belga preta de apenas 7 meses de idade. Sete meses para sete anos: uma diferença que beira a catástrofe.

Keila é o exemplar mais desastrado da espécie. Desastrado e forte! Especialista em sujar janelas e estragar roupas, mangueiras, vassouras, máquinas de lavar – enfim, vale tudo. Passear com ela tem sido um tormento, todos na rua riem de mim. “É uma cachorra passeando com uma menina”, zombam. Nem me importo mais. Ao invés disso deleguei a função do passeio, ora para o irmão, ora para o namorado.

Claro que cada uma é especial à sua maneira. Uma me recebe com os chinelos na boca quando chego em casa, a outra me recebe com choro e pulos de emoção. Eu não seria tão feliz se elas não fizessem parte da minha vida.

Ocorre que uma não pode ver a outra. Na verdade a Polyana é que não pode ver a Keila – nem ela, nem outro cachorro, gato, rato, pássaro, borboleta ou qualquer ser que se mova. Eis o grau de ciúme da pequena ranzinza! Chega a ser engraçado uma cadelinha felpuda, com cara de urso de pelúcia, latindo de forma incontrolável e escandalosa para a outra, forte e imponente. Mas antes assim do que o contrário.

Vivo nessa deliciosa guerra canina. Não há prediletos.
No coração de uma mãe apaixonada tem lugar para todos os seus filhotes.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Fragmentos

Quando adolescentes, nossas aflições se resumem a um punhado de coisas que provavelmente não nos lembraremos aos 20 e poucos.
Coisas que nos fizeram crescer, que moldaram nossas personalidades. Coisas desimportantes, que ao final, farão uma diferença enorme.

Chega a ser triste que todas essas experiências sejam esquecidas numa gaveta qualquer, aninhada a fotos, poemas, bilhetes da época de colégio e “pra sempres” tão efêmeros. São memórias esquecidas até o dia em que nos deparamos com elas casualmente, vasculhando os armários em busca de um objeto importante. Quando isso acontece todas as lembranças vem à tona, e nos permitimos então dedicar um pouco do nosso tempo – agora raro – apenas para relembrar aquilo que jamais voltará.

Uma coisa enorme, depositada noutra infinitamente menor. É espantoso constatar que uma história inteira cabe numa gaveta.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Matou

Que me chamem louca, não me importa
Preciso viver, pois de morrer estou morta
Morta de tanto morrer de amores.
Não há paz que dure nesse espaço raso,
Fica um preto, um branco acinzentado.
O amor é a droga poderosa da incerteza
Que não deixa terminar, não deixa prosseguir
É a cama por fazer, é o jantar frio
Tira o sono e mata a fome.

Aceitação

Vez em quando me bate uma dor, uma angústia. É que me dói não ser o centro do teu universo. Me dói também meu próprio egoísmo, meu insistente martírio.
E de tanta dor, surge em mim um sujeito rarefeito, desfeito, sem jeito, palpita o peito.
Me falta aceitação, me sobram todos os sentimentos passionais.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Namastê.

Somos todos centelhas divinas em constante evolução. Quando cheguei a esta conclusão, tudo se tornou mais claro para mim. Não existem culpados, não existe o mal. O que é o mal aos nossos olhos, não passa de mera inexperiência na trajetória da vida. Somos pequenos pedaços de um Deus que nos criou à sua imagem e semelhança, somos parte da energia divina e um dia retornaremos à fonte.

Quando passamos a ver as pessoas como parte de Deus, fica mais fácil respeitá-las e enxergá-las sem ódio ou rancor.

Namastê.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

200

Eis aqui meu post nº. 200.

Não sei se ele exprime dois zeros, se exprime vinte zeros – o que dá na mesma – ou ainda se exprime duzentos. Acredito ser a última opção. Mas duzentos ‘o quê’? Duzentos desabafos, duzentos escritos a esmo, duzentas histórias? Talvez seja isso, mas não estou bem certa. Na verdade nunca estive bem certa sobre nada, nem sobre nascer, nem sobre morrer, e muito menos sobre o intervalo entre uma coisa e outra. Da mesma forma, não estou bem certa a respeito do que exprimem esses meus 200 posts.

Esse blog sempre foi uma fuga pra mim. Através dele eu pude fugir das minhas angústias e aflições, fosse postando algo engraçado, fosse revelando algo mais íntimo, fosse dizendo qualquer coisa por dizer. Era a minha própria fuga e eu podia fugir como quisesse: isso era o máximo!

Confesso que hoje, lendo meus posts mais antigos, eu me considerararia uma pessoa bacana se não me conhecesse. Não que eu não seja, vejam bem: é que há divergências. O fato é que, bacana ou não, não me sinto mais a mesma pessoa de antes. Seria o tempo, implacável, operando tantas e visíveis transformações? O tempo entre essas duzentas ‘quaisquer coisas’ foi hábil para me modificar tanto? E a minha fuga, o que aconteceu com ela? Talvez tenha deixado de ser uma fuga e se transformado em outra coisa também, assim como eu mesma me transformei. Talvez, talvez...

Não sei. Acho que sim, mas não estou bem certa. Preciso pensar mais a respeito. E vou publicar esse post antes que eu mude de ideia e que as minhas crises existenciais calem de vez a voz desse blog, han.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Silêncio

E eu que tinha tanto pra dizer, num repente me fiz muda.