terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Carta de Natal


Minha querida família,

Infelizmente não pude estar presente nesse natal. Não espero que entendam os motivos, mas eu já sabia que esse natal seria mais triste que os outros e me doi ter que conviver com isso, principalmente por saber que a pessoa que eu mais amo é uma das que mais está sofrendo. O objetivo dessa carta é mostrar que, mesmo distante fisicamente, nunca me esqueço de vocês.

Mãe, é você a pessoa que eu mais amo nesse mundo. É graças a você que eu venho tentando lutar contra todas as coisas ruins que tem me acontecido. É você o meu porto seguro, a minha fortaleza e a minha esperança. Te desejo um natal abençoado e muitas renovações para o ano vindouro. Quero muito te ver feliz, porque só assim eu também estarei feliz. Estou com saudades desde já!

Pati, já sinto falta da sua comida deliciosa e das risadas com as suas loucuras. Obrigada por todas as preces que você me dedicou nesse ano, obrigada por todo o carinho e amizade. Nossa pouca diferença de idade permite que eu te veja não apenas como tia, mas também como amiga – uma amiga querida e muito especial. Um feliz natal pra você, pro Fer, pro Ni, Melzinha e Soninho! Vocês são muito amados e estão no meu coração.

Tio Toni, você e a tia Sil foram meus espelhos desde a infância. Sinto um carinho enorme por vocês e pelas crianças – A Kaka, essa princesinha linda e o Ri, esse menino tão inteligente e carinhoso. Que Deus continue iluminando todos vocês e que em 2013 todos nós possamos passar mais tempo juntos (sinto falta disso). Vocês são muito importantes pra mim! Um beijão!

Tia Maria, não sei se você estará presente nesse natal. De qualquer forma, esteja você onde estiver, só tenho a te agradecer. Você me ajudou muito com suas preces, seu sorriso e sua presença. Tudo isso foi essencial para que eu pudesse atravessar tantos problemas nesse ano. Eu te amo, tia! Um ótimo ano novo pra você, pra Dani, pro Thiago, pra Lidiane e o bebê e pro Rafael.

Rafa, que saudades das suas palhaçadas! Você sabe o quanto é querido por toda a família, né? Por mim então, nem preciso dizer! Um beijo e muita felicidade na sua vida, meu irmão! Que Deus te abençoe não só nesse natal e ano novo, mas sempre. Amo você!

Valéria... olha, meu tio teve muita sorte. Você é tão querida! Tenho certeza que não só eu, mas toda a família se orgulha muito em tê-la conosco! Não era à toa que meu tio estava tão apaixonado. Parabéns por ser essa graça de pessoa, por ser tão íntegra e alegre! Que você e a Isa tenham um ótimo natal e um réveillon muito próspero! Adoro vocês!

Felipe, não sei se você comemora o natal. Mesmo assim, te desejo um feliz natal e um ótimo 2013. Estou orgulhosa com a sua aprovação. Seu pai não caberia em si de tanta felicidade, tenho certeza. Gostaria de te ver mais vezes! Gosto muito de você, menino! Muito mesmo! Beijos pra você e pra Mari.

Vó Cida (alguém leia isso pra ela e faça com que ela preste atenção, por favor). Vó, eu te amo muito. Tive tanto medo de te perder esse ano... ainda bem que você continua aqui, feliz, cantando e sorrindo. É assim que quero te ver sempre! Um feliz natal e um ótimo ano novo, viu? Ah, e caso você já tenha esquecido vou falar de novo: eu amo muito você!

Como eu queria poder abrir um tópico nessa carta e escrever algo para o meu tio Mi... com certeza eu escreveria que ele foi mais que um tio e mais que um padrinho, foi o pai que eu não tive. Escreveria que ele mora no meu coração, assim como ele dizia pra mim. E ele provavelmente choraria ao ler, assim como eu estou chorando agora, enquanto escrevo essa carta. Mas acredito que mesmo que não possa ler isso agora, ele já saiba todo o teor. E também acredito que ele está feliz onde quer que esteja, por isso não devemos ficar tristes pela ausência física dele nesse natal. Ele gostaria de nos ver felizes, comendo churrasco e tomando caipirinha. Esse vai ser sempre o meu tio! E ele sempre estará conosco, ainda que não fisicamente.

Pensem em mim nesse natal como se eu estivesse aí com vocês, assim como o meu tio. Porque de coração e de alma, eu estarei – e ele também.

Um feliz natal, família Porcel.
Eu amo vocês.

Aline.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Trechos

Nessa noite, surge uma nova pílula no meu copinho de papel. Antes que eu me dê conta, os comprimidos estão na minha mão.
- O que é isto? - pergunto, pegando a pílula nova. Eu a viro e inspeciono o outro lado.
- O quê? - a enfermeira me pergunta.
- Esta aqui. É nova.
- É triptanol.
- E para que serve?
- Vai ajudá-lo a se sentir melhor.
- Para que serve?
Ela não responde. Nossos olhos se cruzam.
- É antidepressivo - diz ela, afinal.
- Não vou tomá-la.
- Sr. Jankowski...
- Não estou deprimido.
- A Dra. Rashid a prescreveu. Vai...
- Vocês querem me drogar. Querem me transformar num carneiro comedor de gelatina. Estou dizendo que não vou tomar.
- Sr. Jankowski. Tenho que cuidar de mais 12 pacientes. Por favor, tome os seus remédios.
- Achei que fôssemos residentes.
O rosto da enfermeira se endurece.
- Tomo as outras, mas esta não - digo, dando um peteleco na pílula, que voa da minha mão e cai no chão. Jogo as outras dentro da boca. - Cadê a água? - pergunto, pronunciando mal as palavras porque estou tentando manter as pílulas no centro da língua.
Ela me dá um copo plástico, pega a pílula do chão e entra no meu banheiro. Ouço o barulho da descarga. Então ela volta.
- Sr. Jankowski, vou pegar outro comprimido. Se o senhor não tomá-lo, vou chamar a Dra. Rashid e ela irá lhe prescrever o mesmo antidepressivo, só que injetável. O senhor vai tomar o triptanol de qualquer jeito. Só tem que decidir como vai ser.
Quando ela traz a pílula, eu a engulo. Quinze minutos depois, também tomo uma injeção - não de triptanol, de alguma outra coisa, mas não me parece justo, porque eu tomei o comprimido.
Em alguns minutos me transformo num carneiro comedor de gelatina. Bem, num carneiro de qualquer tipo. Mas ainda me lembro do incidente que me causou essa desgraça e me dou conta de que se alguém me trouxesse uma gelatina bexiguenta naquele instante e me dissesse para comê-la, eu comeria.
O que fizeram comigo?

[Água para elefantes, Sara Gruen]

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Trechos

Às vezes acho que se eu tivesse de escolher entre uma espiga de milho e fazer amor com uma mulher, escolheria o milho. Não que eu não fosse gostar de curtir uma última trepada - ainda sou homem e algumas coisas nunca morrem -, mas só de pensar naqueles grãos doces estourando entre os dentes fico com água na boca. É uma fantasia, eu sei. Nenhuma das duas coisas vai acontecer. Mas gosto de pesar minhas opções, como se eu estivesse diante de Salomão: uma última trepada ou uma espiga de milho. Que dilema maravilhoso. Às vezes substituo o milho por uma maçã.

[Água para elefantes, Sara Gruen]

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Vou



“Quero os melhores romances, ou prefiro ficar sozinha. Quero as melhores lembranças, ou prefiro não lembrar. Ou vivo intensamente, ou vou levando essa rotina que não incomoda, não interfere, não fere, mas também não é vida. Vou dispensando tudo o que não julgo suficiente pra me roubar a solidão. Vou excluindo do meu convívio todos que não parecem prontos pra marcar meus dias.”

(Veronica Heiss)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Ensaio sobre a cegueira": uma análise crítica

O filme em questão baseia-se na obra homônima de José Saramago, na qual a população de uma cidade se vê acometida por uma epidemia repentina e inédita, que ocasiona “cegueira branca”. A população é infectada aos poucos e todos aqueles atingidos pela cegueira são isolados em um sanatório desativado, sob a alegação governamental de que tal ação tratar-se-ia de medida de segurança. No local, as condições são sub-humanas. O caos é total, a sujeira se alastra por todo o ambiente e a alimentação é insuficiente.
Salienta-se que há na área de isolamento uma mulher que consegue enxergar. Ela é esposa de um oftalmologista que foi infectado pela doença e durante todo o tempo em que lá se encontra, solidariza-se com o grupo e trabalha em prol da coletividade, seja cuidando da higiene alheia, seja guiando as pessoas, ou ainda, realizando outras atividades em benefício do grupo. No início ninguém sabe que a mulher enxerga, pois ao perceber que o marido seria encaminhado à área de isolamento, ela diz também não enxergar.
Quem detém o controle sobre a população isolada são soldados que ainda enxergam. Estes fornecem a alimentação, que é racionada por aquela. Ocorre que uma das alas resolve controlar o racionamento, estabelecendo pagamento pela comida. Quando esgotam-se as jóias, relógios e outros bens, os integrantes da ala dominante exigem as mulheres como forma de pagamento.
Após um episódio de violência sexual, a mulher que enxerga decide matar o líder da ala exploradora, gerando uma guerra interna no local. Depois de algum tempo todos conseguem sair do sanatório, guiados pela mulher, que percebe um estado de total desordem nas ruas. Pessoas disputam alimentos como animais e seres humanos mortos nas ruas são devorados por cães.
Ao final, o primeiro homem a ficar cego consegue recobrar sua visão. Surge, com isso, a esperança de que todos consigam também voltar a enxergar.
Em primeiro lugar, torna-se necessária a análise do tipo de cegueira. Não é uma cegueira usual, em que os cegos tem apenas a percepção da escuridão, mas sim uma cegueira “branca”, na qual constata-se uma superfície leitosa. O branco representa a existência total de luz e, no entanto, ninguém consegue ver diante de um excesso de claridade. É possível fazer uma interpretação no sentido de que as pessoas “enxergariam demais” sem que essa luz se refletisse, ou seja, o excesso de luz as cegaria. Dessa maneira procede a sociedade: as pessoas possuem acesso a diversas informações, o saber está em toda parte, mas isso não é suficiente: se o saber é intenso mas não há reflexão sobre ele, ocorre uma cegueira social, ou alienação. Ou seja, pode-se dizer que o saber apenas colocado à disposição mas não utilizado funciona como excesso de luz, que ao invés de iluminar, cega.
Desde os primórdios a ideia de alienação vem sendo perpetuada pelas classes dominantes, ou seja, a alienação possui uma construção histórica. Isso faz com que o poder seja mantido por apenas um pequeno grupo de pessoas, enquanto a maioria esmagadora permanece alienada para servi-lo. É a falta de reflexão e, muitas vezes, de conhecimento, que leva populações a serem dominadas por líderes tiranos e corruptos, inclusive nas sociedades contemporâneas. Tal processo ocorre através de simples reprodução das representações sociais durante diversas gerações.
Evidenciam-se na obra valores sociais extremamente frágeis, assim como nas reais sociedades. Onde ninguém pode ver, os problemas sociais não aparecem. No filme algumas pessoas chegam a andar nuas porque o pudor não mais existe – se ninguém é capaz de ver uma pessoa nua, não há porque existir pudor. Da mesma maneira ocorre com a falta de higiene e com os valores sociais e morais. As pessoas se habituam a viver nesses moldes em razão de sua cegueira física e moral. A fragilidade de valores sociais e morais é bem ilustrada na cena onde o líder da ala 3 estabelece que entregará a quantidade de comida que achar conveniente, independente da quantidade e qualidade dos objetos trazidos como pagamento, bem como nos momentos em que submete mulheres à exploração sexual, ou ainda, nas cenas onde aponta uma arma de fogo em direção às pessoas que deseja reprimir.
A única integrante do grupo que consegue enxergar não é capaz de agir sozinha até que um desastre ocorra, qual seja, a morte de uma das mulheres de sua ala em razão do abuso sexual sofrido pela ala dominante. Até então ela não se rebela para não gerar uma guerra, o que denota a preocupação que nutre por todo o seu grupo, entretanto, ao constatar a ameaça iminente, resolve matar o líder da ala exploradora. Há claramente uma ação extrema que tem como objetivo a salvação coletiva e especula-se que seja esse o motivo pelo qual ela não se deixa cegar: ela não faz parte da massa alienada porque não centra seus pensamentos apenas em si mesma. Essa mulher consegue manter-se como a única testemunha da total degradação do ser humano, é a única capaz de enxergar nas mais diversas acepções os eventos que ocorrem à sua volta.
O filme exibe uma cena na qual a mulher dotada de visão adentra uma igreja que abriga diversas pessoas acometidas pela epidemia. O padre discursa sobre a cegueira como forma divina de cura, esclarecendo que “assim como Deus converteu pela cegueira Paulo, que perseguia e matava os cristãos, também converteria toda a população ora desprovida de visão”. Evidencia-se nessa cena a forte influência alienante que a igreja católica exerce sobre os indivíduos desde a Idade Média, período caracterizado pela venda de indulgências e pela fixação de dogmas. No discurso, é perceptível a ideia alienante de que a cegueira é instrumento de cura e não de perdição. O papel da igreja, desde seus primórdios, sempre foi no sentido de que seus ideais eram indiscutíveis, de modo que aqueles que não questionam suas ideologias garantem a bênção divina e a salvação eterna. Através do discurso feito pelo padre na obra, constata-se que Deus converteria pela cegueira porque aqueles que não são capazes de ver, também não são capazes de questionar.
Também é possível fazer uma interpretação acerca do regime político vigente. Enquanto são poucos os indivíduos isolados no local, a administração e resolução dos problemas é mais fácil, assim como o convívio. Todos participam das tarefas e colaboram entre si. Conforme o número de integrantes aumenta, surge entre eles a necessidade de comando e dominação. O líder da ala 3 se autointitula “rei” do lugar, ou seja, um sistema antes democrático torna-se então absolutista, tirano. O poder coercitivo modela o comportamento dos indivíduos, até que eles atuem exatamente da maneira como o seu líder deseja.
Pode-se construir uma analogia entre o contexto da obra e alguns fenômenos históricos e sociais, como é o caso da Revolução Industrial e do próprio sistema de produção capitalista. Em ambas as situações há um sistema de dominação, sendo que no filme a dominação ocorre, em primeiro grau, por aqueles que ainda enxergam. Quem controla o lugar são soldados que ainda não foram infectados pela cegueira branca, isto é, homens armados que vigiam a área isolada e atiram em qualquer indivíduo que estabeleça tentativas de fuga ou que não aja de acordo com as regras estabelecidas. No século XIX, a dominação ocorre por parte da burguesia, que controla a classe proletária – não através de armas como no filme, mas através da oportunidade de manutenção da subsistência de uma classe menos favorecida mediante sua própria exploração. Da mesma maneira, no sistema de produção capitalista, quem exerce o domínio são os detentores dos meios de produção sobre os detentores da força de trabalho. Essa mesma exploração é observada no filme também por parte dos líderes em segundo grau, que encontram-se acometidos pela cegueira. Eles controlam os suprimentos como no sistema capitalista, determinando os “preços” com base na lei da oferta e da procura, ou seja, se todos precisam se alimentar a procura é naturalmente alta e os preços fixados também tornam-se altíssimos, caracterizando o acúmulo de riquezas derivado da exploração em todos os seus sentidos. Salienta-se ainda, numa comparação com o sistema capitalista, que a exploração ilustrada no filme é muito mais intensa em virtude de não haver “concorrência”, pois todos os suprimentos encontram-se em poder de um único grupo.
Outro aspecto interessante a ser observado é o modo como a escolha de líderes pode se tornar um fator diferencial na existência dos grupos sociais. Se um determinado grupo se deixa governar por um tirano, sofre as consequências da dominação e da exploração em seus mais variados graus. Em contrapartida, ao escolher um líder sensato e com foco na coletividade (como é o caso da mulher capaz de enxergar), um grupo social consegue participar ativamente de seu desenvolvimento, bem como manter sua identidade e seus valores.
A cegueira caracteriza, enfim, a alienação de uma sociedade. O sistema estabelecido é alienado e nele, somente aquele que possui a vontade de ver é que o faz, isto é, apenas quem se dispõe a raciocinar e questionar as ideologias dominantes consegue se desprender das relações de dominação e viabilizar o processo de tomada de consciência de si e do grupo social ao qual pertence.

(Trabalho de Psicologia Social apresentado por mim no 2º período do curso de Psicologia).

domingo, 21 de outubro de 2012

(des)construção

Parecia uma epifania, só que ao contrário.
Ela acabara de descobrir que o que pensara ser não o era. Quis começar a falar, mas não pôde. Tentou novamente e conseguiu, mas ainda não foi capaz de concluir. Era sério. De repente teve a sensação de um deja vu, algo que acontecera há alguns meses. Ocorria sempre da mesma maneira, as mesmas emoções vindo à tona de uma maneira quase desesperada. Quando isso acontecia, uma coisa era quase certa: alguém a havia induzido a erro. Lágrimas, uma, duas, três, cinco, vinte e duas, cento e quarenta. Mais. Ela era tão emocional, que não havia jeito de ser menos.

sábado, 15 de setembro de 2012

Drops

1.Uma ideia de felicidade?
Tenho várias ideias de felicidade: abraçar meus cachorros, ganhar um livro, comer e não engordar, comprar um sapato, ouvir uma música que adoro, receber uma ligação de alguém querido, ter um amor que valha a pena ser amado...

2.Uma viagem marcante?
Ainda farei a viagem dos meus sonhos, cujo destino é a “Cidade Luz”, Paris.

3.O que a irrita?
Me irrito com gente que fala alto demais, que maltrata animais, que não tem educação e nem bom senso.

4.O que a deixa de bom humor?
Uma pastor belga preta e estabanada chamada Keila.

5.Um talento que gostaria de ter?
O de influenciar pessoas.

6.Uma atividade prazerosa?
Ler.

7. O que mais aprecia nos amigos?
A fidelidade.

8.O que a faz chorar?
Tristeza, saudade, angústia e insegurança são as principais coisas que me fazem chorar.

9.Um cheiro ligado à infância?
Cheiro de laranja.

10.O que mudaria em si mesma?
Minha insegurança, sempre.