sábado, 28 de agosto de 2010

Pai

Nessa semana ele se foi.

Eu nasci numa terça-feira, ele se foi numa terça-feira. Meu início, seu fim.

Ainda é difícil crer que tudo aconteceu dessa forma. Me lembro de quando era criança, de quando me levava nas bancas de revistas para comprar gibis, me lembro dos passeios de carro, das instruções que me passava sobre como comer bife embrulhado em salada de alface, me lembro do primeiro buquê de rosas que ganhei na vida, e foi dele, no meu aniversário de 7 anos. Me lembro do seu pranto por não ter conseguido ser mais presente. Eu me lembro, e como isso me doi agora.

Espero que saiba que eu o amei, mesmo na ausência. Ainda o amo, sempre amarei.

Rezo para que as luzes celestiais o acompanhem, sei que um dia nos encontraremos para partilhá-la. Até lá fica a esperança do nosso reencontro e a saudade que não cessa.

domingo, 15 de agosto de 2010

História infantil

Era uma vez um cavalo que queria ser peixe.
Obcecado por seu sonho, um dia resolveu pular no mar. Mas que triste sina a do cavalo: ele começou a se afogar.
Bastante frustrado, o cavalo pediu ajuda ao seu amigo peixe boi. "O que preciso fazer para me tornar um peixe?" perguntou o cavalo.
Após muito pensar, o peixe boi teve uma ideia. Foi conversar com a sereia e relatou o drama vivido pelo seu amigo cavalo.
A sereia fez um feitiço e desde então o cavalo vive feliz: ele agora é um cavalo marinho.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Dois amores

*Polyana com cara de quem caiu do caminhão de mudança.


*Keila fazendo pose (com 5 meses).


Estou para minhas cachorras como uma mãe está para os filhos.

Polyana é um amor de longa data. Uma lhasa apso de meia idade que, apesar de sua meiguice, vive como a tia velha que não se casou, não procriou e que adora uma encrenca. São 7 anos caninos muito bem vividos. O ciúme excessivo faz com que ela não suporte a irmã caçula Keila, uma pastor belga preta de apenas 7 meses de idade. Sete meses para sete anos: uma diferença que beira a catástrofe.

Keila é o exemplar mais desastrado da espécie. Desastrado e forte! Especialista em sujar janelas e estragar roupas, mangueiras, vassouras, máquinas de lavar – enfim, vale tudo. Passear com ela tem sido um tormento, todos na rua riem de mim. “É uma cachorra passeando com uma menina”, zombam. Nem me importo mais. Ao invés disso deleguei a função do passeio, ora para o irmão, ora para o namorado.

Claro que cada uma é especial à sua maneira. Uma me recebe com os chinelos na boca quando chego em casa, a outra me recebe com choro e pulos de emoção. Eu não seria tão feliz se elas não fizessem parte da minha vida.

Ocorre que uma não pode ver a outra. Na verdade a Polyana é que não pode ver a Keila – nem ela, nem outro cachorro, gato, rato, pássaro, borboleta ou qualquer ser que se mova. Eis o grau de ciúme da pequena ranzinza! Chega a ser engraçado uma cadelinha felpuda, com cara de urso de pelúcia, latindo de forma incontrolável e escandalosa para a outra, forte e imponente. Mas antes assim do que o contrário.

Vivo nessa deliciosa guerra canina. Não há prediletos.
No coração de uma mãe apaixonada tem lugar para todos os seus filhotes.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Fragmentos

Quando adolescentes, nossas aflições se resumem a um punhado de coisas que provavelmente não nos lembraremos aos 20 e poucos.
Coisas que nos fizeram crescer, que moldaram nossas personalidades. Coisas desimportantes, que ao final, farão uma diferença enorme.

Chega a ser triste que todas essas experiências sejam esquecidas numa gaveta qualquer, aninhada a fotos, poemas, bilhetes da época de colégio e “pra sempres” tão efêmeros. São memórias esquecidas até o dia em que nos deparamos com elas casualmente, vasculhando os armários em busca de um objeto importante. Quando isso acontece todas as lembranças vem à tona, e nos permitimos então dedicar um pouco do nosso tempo – agora raro – apenas para relembrar aquilo que jamais voltará.

Uma coisa enorme, depositada noutra infinitamente menor. É espantoso constatar que uma história inteira cabe numa gaveta.