São 04h30 e estou acordada. Minha previsão é de que esta será mais uma terça-feira tediosa, como tantas outras que já vivi. Uma sensação diferente me acomete: não estou feliz, tampouco triste; não me percebo bem ou mal.
Creio que me sinto como se retornasse aos nove anos de idade, com meus primeiros poemas e minhas angústias solitárias. E tenho consciência de que é estranho esse tipo de pensamento, já que o normal é relacionar infância à felicidade.
A minha infância foi solitária. Não que ela fosse desprovida de momentos felizes, pelo contrário. Me lembro de vários deles e, curiosamente, todos eram laranja.
Já até escrevi sobre isso noutra ocasião: o sol com seus raios laranjas que batiam na terra laranja do quintal da casa da minha avó, o pôr-do-sol laranja no céu laranja, que combinava com as minhas roupas laranjas e com as laranjas que eu via debaixo dos toldos laranjas da feira aos domingos... enfim, meus-momentos-felizes-cor-de-laranja.
Acontece que, não obstante a existência de tais momentos, a solidão continuava sendo-me contumaz.
Ela me perseguia, e me dominava especialmente nas frias noites de inverno, trazendo inquietude e por conseqüência, a insônia.
Até hoje é assim.
E só Deus sabe por quanto tempo ainda será.
.
.
.
Ps: Por enquanto, a série Caio Fernando Abreu acaba por aí. Só por enquanto.